A coleta seletiva de resíduos sólidos e as políticas sociais para catadores e catadoras foi tema do segundo bate-papo promovido pelo Comitê pelo Meio Ambiente. O acontecimento foi realizado na sede do Diário de Santa Maria e contou com a palestra de Alexandro Cardoso, catador e membro do MNCR e a professora Simoni Bochi Dorneles, do IFFAR. O encontro contou com a presença de 70 convidados, entre eles oito associações ligadas à temática.
Cardoso Destacou que a sociedade está muito atrasada em políticas públicas para a coleta seletiva e no trato dos catadores e catadoras e ainda deixou 3 lições para mudança de mentalidade da sociedade:
"Primeiro para os empresários, parem de vender os resíduos, revender resíduo é quase como tirar alimento da boca dos catadores. Coloque esse resídios em cima do seu carro com sua marca e leve até a cooperativa. Nós precisamos parar de ver tudo como lucro, tem que aprender a ver de outra perspectiva. Segundo, a prefeitura: não tem q ter o edital prefeitura! A coleta seletiva tem que ser feita pelas catadoras e catadores. Os catadores vão coletar de caminhão, até de disco voador se tiver um contrato que pague pelo serviço igual a uma empresa. É exatamente igual. A sociedade: fazer a separação do lixo. Para de financiar o mini lixão, o contêiner. Separe seu resídios, destine pro catador. A primeira cidade que contratou os catadores foi Santa Maria e nós precisamos voltar a isso!"
Já Simone Dorneles destaca que é necessário a sociedade participar da educação ambiental e o poder público investir nas pessoas que trabalham com a catação de recicláveis.
"Nós estamos fazendo uma movimento contrário, que é de não contribuir para essas ações que são tão necessárias para a sociedade. As associações de catadores possuem um conhecimento construído que é extremamente importante. Não podemos pensar que são pessoas que não tem conhecimento, pois são elas quem sabem o valor que cada resíduo pode agregar. Há uma potência que não está sendo vista, dessa organização e da formação desses agentes como cidadões que também conseguem transformar e que também são capazes de atuar em espaços públicos."
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Alexandre Marin Ragagnin, procurador do Ministério Público do Trabalho
– Santa Maria é uma das poucas cidades que não tem convênio ou contratação com cooperativas ou associações de reciclagem. Nós, enquanto sociedade, precisamos pensar em formas de inclusão para proteção do meio ambiente e das famílias de catadores.
Guilherme Schneider, vice-presidente do Sindicado da Indústria da Construção Civil (Sinduscon)
– Toda obra necessita ter um termo de compromisso de gerenciamento de resíduos, como uma forma responsabilizarmos por essa geração e de saber para onde vai os resíduos gerados pelas obras.
Homero Bolsinha, ambientalista e integrante do grupo de trabalho Simbiose
– É necessário que tenhamos orgulho de viver em Santa Maria, que tenhamos uma proposta para a coleta seletiva, porque é uma vergonha não termos. Os catadores economizam para os cofres da prefeitura R$4,6 milhões por ano. Nós podemos resolver isso, de forma efetiva, mas basta querer resolver.
Marcus Vinicius Barbosa Nunes, da cooperativa de Resíduos Inservíveis Reciclados (CRIR)
– A parte ambiental é nossa vida, devemos entender que o catador não tem a obrigação de pensar em todos os âmbitos da reciclagem. Deve-se ter processos de inovação, para que eles vejam que vale a pena trabalhar ali, tirar o sustento da sua família. A reciclagem tem que ser feita por parte do ser humano, em casa, antes de chegar nos contêineres.
Margarete Vidal, recicladora da Associação dos selecionadores de Materiais Recicláveis (Asmar)
– Quando viemos falar sobre resíduos não falamos apenas sobre a Associação, mas com todos os catadores de Santa Maria. Não é só sobre a sobrevivência dos catadores, mas sim das famílias que estão por trás de nós. Ninguém nasceu para ser catador, mas somos levados a isto. Nós não somos problema, nós somos solução.
Ricardo Diaz, vice-presidente do Sindicado dos Logistas do Comércio (Sindilojas)
– A gente entende que é possível, que o comércio e os empresários são responsáveis e podem participar de todo esse processo. Nossas propostas viáveis seriam a criação de uma cooperativa municipal ou regional de resíduos sólidos e a educação e fiscalização que englobe escolas, empresas, indústrias e instituições públicas.
Marli Rigo, ex-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL)
– Acho que a falta de conhecimento, de colaboração [com os catadores] é pior do que a dificuldade econômica. A gente precisa começar essa cultura de cooperação dentro das nossas casas, separando dignamente o material. Vamos juntos fazer as coisas acontecerem pelo melhor e para as pessoas que tiram dali o sustento de suas famílias.
Teresinha Aires Domingues, coordenadora da Associação de Reciclagem Seletivo Esperança (Arsele)
– Não adianta ter um comitê, mas não dar voz aos catadores. Apenas nós sabemos o que passamos, o que vivemos no dia a dia. A Arsele é uma grande família, temos ao todo 49 famílias agregadas ali. Nós vendíamos 7 toneladas na época da coleta seletiva, e agora a gente só vende 2 toneladas. A gente é feliz, mas a gente sonha com 3 refeições por dia.
Paulo Roberto Morais da Silva, catador da Associação Noemia Lazzarini
– Eu comecei trabalhar com 7 anos de idade, recolhendo ossos, enfrentando a rua como catador. Não é brincadeira, saímos de casa no clarear do dia, recolhemos 6 mil toneladas de material reciclável e que não vai pro aterro. Porém, isso não é pago para a gente, existe uma dívida conosco.
Lidiane Jaques, presidente da cooperativa União dos catadores e catadoras de Cruz Alta (Unicca)
– Temos uma cooperativa de catadores com 45 cooperados, uma conquista de anos de luta. A gente sabe que precisamos evoluir, mas temos que seguir esse trabalho, os catadores precisam receber por isso, pelo seu serviço, pois eles fazem o serviço mais bem feito e menos bem pago.
O Comitê pelo Meio Ambiente
O Comitê pelo Meio Ambiente tem o compromisso de fomentar e propor a mudança de comportamentos dos santa-marienses quanto ao tema proposto.
Com o slogan “Compromisso permanente com o futuro”, o grupo vai trabalhar de forma conjunta com a sociedade, as universidades e o poder público, buscando alternativas que possibilitem as práticas sustentáveis em Santa Maria.
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